Não sou uma sereia, nunca serei
Esses dias eu estava navegando na internet e me deparei com uma notícia sobre a Demi Lovato, cantora e atriz norte-americana. Li que um fã havia desenhado a artista em um corpo de sereia, com seios avantajados e uma cintura bem fina. Demi, ao contrário do que o fã esperava, indagou se era daquela forma que os seus seios deveriam parecer, disse que o desenho estava bonito, mas que aquele não era o seu corpo.
O que mais me chamou a atenção é que a cantora recebeu várias críticas por causa dessa reação, muitos entenderam a resposta da Demi como uma total grosseria. O próprio fã se sentiu extremamente chateado. Eu não compreendi assim. A resposta foi totalmente lúcida e autêntica. Significou uma postura clara contra as imagens de beleza padronizada e que geram os sentimentos de inferioridade de muitas mulheres, fazendo-as acharem que ter um corpo diferente daquele que é imposto pela mídia as tornam menos atraentes e mais infelizes.
Demi Lovato sofreu de bulimia, chegou a se internar em uma clínica para tratar de diversos distúrbios, lutou bastante para se livrar dos complexos relacionados ao corpo. Então, não foi uma resposta grosseira, foi uma indagação sincera. Vivemos aprisionados a uma cultura imposta pela mídia, que nos impõe um ideal de beleza todos os dias. “Tenha seios grandes, mas não tão grandes assim, cintura fina é a mais legal, cabelo liso é o mais bonito, mas aquela modelagem também é cool”, e assim somos bombardeados todos os dias com ideais praticamente impossíveis de serem alcançados.
Precisamos nos sentir livres, amar todas as partes que nos fazem ser quem somos. A opinião de muitos, inclusive da própria mídia, sobre o fato de a resposta da Demi ao desenho ter sido uma atitude “grosseira” só demonstra a força de uma cultura que leva as mulheres- e não só elas- a ingerirem caladas uma série de imagens e conceitos pré-fabricados. Lovato não foi rude, grossa ou mal educada, ela foi apenas sincera ao admitir para o fã e para si própria que o que fora desenhado não era o seu corpo.
O que as pessoas esperam da gente ou do nosso corpo é problema delas. Não quero passar a vida tentando ser uma sereia, daquelas construídas por uma doutrina mercadológica. Quero me aceitar dentro do meu próprio jeans e achar meus seios pequenos maravilhosos. Quero sentir um amor imenso por mim mesma. Quero fugir de tudo que me aprisiona, me torna pequena e me impede de viver. O exemplo de Demi apenas nos diz o quão é bom aceitar nossa própria imagem e enxergar os padrões de beleza como algo que não faz o menor sentido.