Entrecorpos
Quando se olharam, se reconheceram: como uma luz os olhos se transpassaram e surgiu um calor na alma, que os acompanhou nos dias seguintes.
Os cheiros se cruzaram, enquanto a pele emanava um perfume real e palpável. Ao fecharem os olhos podiam lembrar-se de seus aromas, doces, puros e firmes. Quando os corpos se encostaram, se reconheceram. Cada toque era certeiro, cada respiração era sincronizada, cada entrelace era ensurdecedor. Pedaço por pedaço. Fio por fio. Momento por momento.
Mas chegou a realidade e a verdade se mostrou fantasia. Ao se depararem com a vida a viram rochosa, espinhosa e implacável. Intensidade breve e frágil.
Realidade, verdade, fragilidade...
Aqueles dias se tornariam apenas uma lembrança, um sopro de leveza. A cada momento que pensassem um no outro sentiriam um arrepio na pele, enquanto na memória se desenhariam curvas, linhas e cores. Ao caminharem pelo mundo questionariam se alguns daqueles corpos se encontrariam de maneira transcendental.
O olhar não ficou triste. O coração não deixou de acreditar. O corpo não perdeu a esperança de se entrelaçar. Mas a lembrança daqueles momentos os inundava enquanto estavam imersos em pensamentos. Mesmo de forma irreal, corpos que se unem dificilmente se esquecem. Cores, cheiros, sensações e sabores dificilmente deixam a pele.
Enquanto isso a vida segue. Novos olhares vêm. Novos amores transcendentais surgem. Novos corpos se reconhecem. Novas conexões surpreendem.
E a vida vai seguindo...