Há humanidade em demasia
O termo humanidade faz referência ao conjunto de todas as pessoas do mundo ou à natureza humana. A compaixão diante as desgraças e as adversidades do outro, a clemência e a benevolência também são características que recebem o nome de humanidade, pelo fato de fazerem parte da natureza humana.
Contudo, a maldade, a barbaridade, a frieza, entre tantos outros, também fazem parte da natureza humana. É tão humano parar na faixa de pedestre quanto ultrapassar o sinal vermelho. É tão humano não maltratar animais de estimação quanto abandonar crianças. É tão humano ser voluntário de um asilo quanto desejar a pena de morte – de outro humano! Pedimos tanto pela humanidade que não notamos o quanto estamos repletos dela ao nosso redor.
É a humanidade que inicia as guerras - a ganância, a busca pelo poder, a briga por territórios, a maldade. E é a humanidade que pode acabar com elas - a conciliação, a solidariedade, a compreensão, a bondade. Mas talvez seja mais fácil dizer que as guerras são provocadas pela falta de humanidade do que pela humanidade em demasia.
Mesmo sendo violentos por natureza, jamais nos reconhecemos como tal. Não, fulano é violento porque é desumano! Se uma mãe ver o assassino da sua filha, ela vai tratá-lo com carinho e benevolência? Não. Nem por isso ela deixará de ser humana, ela estará sendo humana.
Enquanto um lindo bebê nasce, um idoso falece no incêndio de um asilo. Enquanto bombeiros lutam para cessar o incêndio do asilo, jovens pegando racha ultrapassam 180 km/h despercebendo o asilo em chamas como trem bala despercebe uma tartaruga.
Enquanto um padre anuncia o ofertório, um certo colarinho branco acerta com seus parceiros um histórico desfalque público. Enquanto o jovem comemora a sua vitória no racha, recebe a notícia do falecimento do seu avô. Enquanto o jovem chora por seu avô, admira o seu mais novo irmão. Enquanto isso, há humanidade em demasia.